O casamento de C.S. Lewis, autor das aclamadas “Crônicas de Nárnia“, com Joy Davidman é uma das histórias de amor mais emocionantes e inesperadas do século XX. Esta união extraordinária, que desafiou convenções sociais e transformou profundamente a vida de ambos, é um testemunho do poder do amor verdadeiro e da fé em meio às adversidades.
Quem foi Joy Davidman?
Joy Davidman nasceu em 1915, em Nova York, no seio de uma família judia. Desde cedo, demonstrou um talento literário excepcional e uma inteligência fora do comum. Era uma leitora voraz, lia vários livros por semana e exibia habilidades críticas, analíticas e musicais notáveis. Seu desempenho acadêmico a levou a se formar na Hunter College e a conquistar um mestrado na Universidade de Columbia. Sua promissora carreira literária incluiu publicações como “Letter to a Comrade” (1938) e “Anya” (1940), que lhe renderam prêmios e reconhecimento.
Na juventude, Joy se desiludiu com o capitalismo durante a Grande Depressão e se filiou ao Partido Comunista dos EUA, tornando-se ateia, como muitos intelectuais da época. Em 1942, casou-se com o jornalista e romancista William Lindsay Gresham, com quem teve dois filhos. Contudo, o casamento foi marcado por dificuldades: alcoolismo, infidelidades e violência do marido. Durante esse período de crises, Joy sustentou a família como escritora e enfrentou grande sofrimento.
Uma experiência sobrenatural
Em 1946, enquanto enfrentava uma profunda crise pessoal, Joy teve um encontro sobrenatural com Deus. Ela descreveu a experiência como um momento de total quebra de orgulho e defesas emocionais: “Pela primeira vez meu orgulho foi forçado a admitir que eu não era, afinal, ‘o mestre do meu destino’. Todas as minhas defesas caíram momentaneamente – e Deus entrou”. Ela relatou que sentiu a presença direta de uma pessoa real e viva: Jesus.
Esse encontro transformador a levou a buscar mais sobre Deus. Ela leu diversos livros de espiritualidade, incluindo obras de C.S. Lewis, como “O Grande Divórcio”, “Milagres” e “Cartas de um diabo a seu aprendiz”, que despertaram nela o desejo de ler a Bíblia. Com o tempo, Joy compreendeu que a pessoa que a visitou era Jesus Cristo. Guiada por amigos cristãos, ela cresceu na fé, foi batizada e eventualmente escreveu para C.S. Lewis para compartilhar como suas obras haviam influenciado sua conversão.
O início de uma conexão extraordinária
O primeiro contato entre Joy e Lewis ocorreu em 1950, através de correspondências. Durante dois anos, trocaram cartas repletas de discussões teológicas e filosóficas profundas, estabelecendo uma rara conexão intelectual. Em 1952, Joy viajou à Inglaterra e conheceu Lewis pessoalmente. A amizade entre eles se fortaleceu, e, no ano seguinte, Joy e seus filhos se mudaram para Londres a convite de Lewis e seu irmão, Warren, para recomeçar a vida. Durante esse período, Lewis ajudou Joy financeiramente, pagando aluguel e a educação de seus filhos.
Da amizade ao amor
Inicialmente, a relação entre Lewis e Joy era puramente intelectual e de amizade. Warren, irmão de Lewis, observou: “Para Jack, a atração foi, a princípio, sem dúvida intelectual. Joy foi a única mulher que ele conheceu que tinha um cérebro que combinava com o seu em flexibilidade, amplitude de interesse e capacidade analítica, e acima de tudo com humor e um senso de diversão”.
Em 1955, Joy enfrentou dificuldades com a renovação de seu visto britânico. Para evitar que ela e os filhos fossem obrigados a retornar aos EUA e enfrentassem situações de risco, Lewis propôs um casamento civil, que ocorreu em abril de 1956. Inicialmente, essa união foi vista como um ato de bondade. No entanto, com o tempo, Lewis percebeu a profundidade de seus sentimentos por Joy, admitindo que a amizade havia se transformado em amor.
Provações e um amor verdadeiro
Pouco tempo após o casamento civil, Joy foi diagnosticada com câncer terminal. Consciente da gravidade da situação, Lewis decidiu realizar uma segunda cerimônia, desta vez religiosa, no leito do hospital, em março de 1957. A cerimônia foi conduzida pelo reverendo Peter Bide, que também orou pela cura de Joy. Para surpresa de todos, Joy experimentou uma remissão temporária da doença, algo que Lewis considerou um milagre.
Durante os três anos seguintes, o casal viveu uma felicidade intensa e inesperada. Viajaram juntos, incluindo uma lua de mel na Irlanda, e compartilharam uma vida repleta de afeto, compreensão e cumplicidade. Lewis descreveu esse período como os anos mais felizes de sua vida.
Os últimos momentos
Em 1960, o câncer de Joy retornou, e ela faleceu em julho daquele ano. Suas últimas palavras para Lewis foram profundamente tocantes: “Você me fez feliz” e “Estou em paz com Deus”. Sua morte deixou Lewis devastado, mas também transformado pelo amor que haviam compartilhado. Em resposta ao luto, ele escreveu “A Grief Observed” (“Anatomia de um luto”), uma obra comovente sobre sua dor e sua luta para reconciliar seu sofrimento com sua fé.
Conclusão
O casamento de C.S. Lewis e Joy Davidman transcende uma simples história de romance. Ele é um testemunho do poder transformador do amor verdadeiro, que pode surgir nos momentos mais inesperados e renovar completamente a vida de uma pessoa. Embora breve, a união entre eles foi marcada por uma conexão intelectual, emocional e espiritual que continua a inspirar pessoas até hoje.
Você pode assistir o filme ‘Terra das sombras’, baseado neste romance, no YouTube: