Pesquisa revela desafios da igreja brasileira na universidade, nas redes sociais e na política

Uma pesquisa inédita realizada com membros de diversas denominações evangélicas no Brasil revelou um panorama complexo e desafiador para a igreja brasileira. Os entrevistados, representando um espectro diversificado de denominações e experiências, apontaram uma série de obstáculos e preocupações em relação à fé, à vida em comunidade e ao papel da igreja na sociedade.

Utilizando o Google Forms como ferramenta de coleta de dados, a pesquisa explorou a percepção dos entrevistados sobre os desafios e preocupações da igreja brasileira em relação à fé, à vida em comunidade e ao papel da igreja na sociedade. 

Um total de 76 membros de 24 diferentes denominações evangélicas responderam ao questionário, em sua maioria de assembleianos (32,9%), batistas (28,9%) e presbiterianos (14,5%), proporcionando uma diversa fonte de dados para análise.

Alicerces da Fé em Teste na escola e na universidade

A igreja evangélica brasileira tem experimentado um crescimento expressivo nas últimas décadas, tornando-se um importante ator social e político. No entanto, esse crescimento não se dá sem desafios. Para compreender o cenário atual e as perspectivas futuras da igreja evangélica no Brasil, é crucial analisar a percepção dos próprios membros sobre os desafios que enfrentam.

Um dos principais desafios apontados pela pesquisa é a manutenção da fé no contexto universitário. Cerca de metade dos entrevistados relatou ter presenciado algum tipo de ataque à fé cristã no ambiente acadêmico, seja por meio de comentários desrespeitosos, debates acalorados ou mesmo por discriminação.

As principais causas para o afastamento da fé e a incompatibilidade com o cristianismo no período universitário, segundo os entrevistados, incluem a influência de ideologias como o marxismo (apontado por 69,7%) e o feminismo (63,2%), a liberdade sexual (84,2%), a ideologia de gênero (75%), o relativismo (72,4%) e a hostilidade ao cristianismo (64,2%). A falta de um discipulado sólido, de apoio da igreja local e a incapacidade de líderes responderem a questionamentos também foram apontados como fatores determinantes para que os jovens se sintam pressionados no ambiente universitário. Muitos dos jovens declararam estar abandonados pela sua igreja em relação aos temas que enfrentam no ambiente universitário. 

Dos entrevistados, apenas 19,7% estudaram parcial ou completamente em escolas cristãs. Enquanto alguns relataram que elas ‘ajudaram a despertar o interesse por conhecer a Cristo’, outros disseram que elas ‘não contribuíram em nada com a fé’ ou apenas transmitiam um ‘cristianismo moralista’. 

Dois terços revelou que seus estudos foram realizados em escolas públicas, onde também houve experiências distintas. Alguns relataram ter sofrido preconceito neste ambiente, sendo motivos de chacota. Já outros disseram que não enfrentaram desafios, e que havia acolhimento e respeito no ambiente escolar. 

E por último, entre os que se sentiram atacados no ambiente universitário, os relatos incluem desde piadas de companheiros de sala como ataques vindo dos próprios professores, como nos relatos abaixo: 

  • “No meu primeiro período da faculdade de história um professor de filosofia disse claramente que religiosos não deveriam ser levados em consideração na esfera pública.”
  • “Um professor ateu me atacou diretamente em uma apresentação de trabalho que não tinha relação nenhuma com religião ou igreja.”
  • “Ataques pessoais recebi apenas uma vez, em que um professor, sabendo minha posição sobre o aborto, começou a intencionalmente debochar dela em aula, no doutorado.”
  • “Minha própria crença era motivo das pessoas me inferiorizarem ou inferiorizarem a minha capacidade intelectual.”

Mais de dois terços (68,4%) relatou nunca ter participado de algum grupo cristão no ambiente universitário, como a Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB), a Cru Campus ou o Intervalo Bíblico.

Redes Sociais: Oportunidade ou Obstáculo?

A pesquisa também investigou o impacto das redes sociais na vida e na fé dos entrevistados. Embora a maioria acredite que as redes sociais ajudam a propagar a mensagem do Evangelho, também existe a percepção de que a mensagem é frequentemente distorcida e que a imagem dos evangélicos é prejudicada por posturas e atitudes de alguns cristãos.

O Papel da Igreja na Sociedade

A participação política de evangélicos é um tema que gera debates acalorados. A pesquisa revela que, apesar de a maioria dos participantes acreditar que a participação evangélica na política é positiva, existe uma preocupação crescente com a associação da fé a personagens e pautas que podem prejudicar a imagem do Evangelho.

Os entrevistados defendem uma postura mais equilibrada, com ênfase em valores cristãos e menos foco em ideologias políticas, buscando representar o cristianismo de forma mais fiel e autêntica. A maioria apresentou preocupação com a ética dos cristãos que se envolvem na política. Alguns mencionaram a presença de políticos nos púlpitos como negativa, outros mencionaram a falta de formação bíblica e filosófica dos cristãos que buscam cargos representativos. Sobre a ideologia que o cristão deve seguir, 63,2% afirmou que não existe uma ideologia única que representa o cristianismo, 22,4% afirmou que o cristão deve ser conservador, e 6,6% afirmou que o cristão deve se submeter à Doutrina Social da Igreja.  

Ao mesmo tempo, 65,8% acredita que a mídia reporta os evangélicos de maneira negativa, com tendências de perseguição. O que significa que, para os entrevistados, a visão do evangélico para quem é de fora é mal representada. 

Olhando para o Futuro

Diante da perspectiva que os evangélicos sejam a maioria da população do Brasil, 50% acredita que isso só será positivo se houver cristãos verdadeiros, enquanto 43,4% expressa que a maioria dos evangélicos será composta de cristãos nominais. Portanto, há uma tendência negativa sobre o futuro da igreja. 

A pesquisa conclui que a igreja brasileira precisa se reinventar para enfrentar os desafios do século XXI. Os entrevistados destacam a importância de:

  • Evangelismo: A pregação do Evangelho continua sendo fundamental para o crescimento da igreja.
  • Renovação da Cultura: A igreja deve buscar influenciar a sociedade de forma positiva, promovendo valores cristãos e combatendo a pornografia e a corrupção.
  • Fortalecimento das Famílias: O apoio às famílias é crucial para a formação de cristãos fortes.
  • Maior Unidade: A unidade entre diferentes denominações é essencial para a força da igreja.

A pesquisa deixa claro que a igreja brasileira enfrenta um momento de transição, com novos desafios e oportunidades. É preciso reavaliar os métodos de discipulado, investir na formação de líderes preparados para responder aos questionamentos do mundo moderno e manter o foco na pregação autêntica do Evangelho, buscando um testemunho que represente a fé cristã de forma fiel e inspiradora.

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