Por que continuar estudando num mundo que vai de mal a pior, segundo C. S. Lewis

Quando a Segunda Guerra Mundial iniciou em 1939, os alunos da universidade de Oxford ficaram apavorados. Como poderiam estudar quando havia soldados sendo mandados para a fronte de batalha? Foi nesse contexto que C. S. Lewis foi chamado a falar sobre o assunto.

No texto publicado sob o título de ‘Aprendizado sob os tempos de guerra’, o autor vai discorrer sobre os motivos pelos quais devemos continuar estudando e seguindo com a vida mesmo quando a situação do mundo vai de mal em pior.

Veremos alguns de seus argumentos:

A situação humana sempre foi de dificuldade

Lewis diz que: “A situação da guerra não cria nenhuma situação absolutamente nova”, somente agrava ao mostrar a situação precária da humanidade, que sempre tem lutas, dificuldades crônicas e situações que precisam ser remediadas. Se olharmos atentamente para o noticiário ou para os acontecimentos de nossos amigos e vizinhos, veremos que as más notícias nunca deixarão de vir. 

“A vida humana sempre viveu à beira do precipício. A cultura humana sempre teve de existir sob a sombra de algo infinitamente mais importante do que ela mesma.”

Se esperássemos pela paz para criar arte, a primeira pintura rupestre ainda não teria sido feita

Sempre surge algum ‘perigo iminente’ que parece mais importante do que estudar, seguir com a vida, ou buscar produzir cultura. Para Lewis, se a gente precisasse aguardar a paz para poder produzir conhecimento, arte e inovação, sequer a primeira pintura rupreste teria sido feita. 

“Se os seres humanos tivessem de adiar a pesquisa pelo conhecimento e pela beleza até estarem seguros, a pesquisa jamais teria começado.”

O ser humano sempre foi capaz de seguir criando em meio ao caos

Toda a história humana está marcada de momentos de peste, guerra e crises que foram acompanhadas de mudanças na cultura. Muitas vezes, esses acontecimentos podem até mesmo servir para que verdades que haviam sido esquecidas voltem à tona.

“Os seres humanos são diferentes; propõem teoremas matemáticos em cidades sitiadas, conduzem argumentos metafísicos em celas de condenados, fazem piadas no patíbulo, discutem o último e novo poema enquanto avançam contra as muralhas de Quebec e penteiam o cabelo no desfiladeiro das Termópilas. Isso não é petulância; é a nossa natureza.”

Até os soldados falam de outras coisas na linha de frente

Muitas vezes, o que ocupa as conversas numa campanha não é a “causa aliada” ou o “progresso da campanha”. Em vez disso, os soldados estão preocupados com histórias, mitos e perguntas abertas fatídicas. Mesmo num local que lhes ameaça a vida, eles desejam “satisfações estéticas”.  

“Antes de partir como soldado para a Primeira Guerra Mundial, eu certamente esperava que minha vida nas trincheiras fosse, em algum sentido misterioso, somente voltada para a guerra. Na realidade, percebi que, quanto mais próximo se chegasse à frente de batalha, menos se falava e se pensava a respeito da causa dos aliados e do progresso da campanha.”

Precisamos continuar estudando se quisermos que a situação atual mude

Se um grande problema surge, não é fugir da reflexão que vai nos afastar do problema. Mas ela, mesmo sobre coisas que não tenham relação direta, pode nos ajudar a encontrar soluções e motivos para viver.

“É necessário que haja boa filosofia, se não por outra razão, porque a filosofia ruim precisa de uma resposta. O bom intelecto deve trabalhar não apenas contra o bom intelecto do outro lado, mas contra os confusos misticismos pagãos que negam o intelecto completamente.”

Nossa alma precisa de verdade e beleza como o corpo se alimenta de comida

“Deus não faz nenhum apetite em vão. Podemos, dessa forma, buscar o conhecimento como tal, e a beleza como tal, com a confiança inabalável de que ao fazer isso estaremos progredindo em nossa própria visão de Deus, ou indiretamente ajudando outros a fazer o mesmo.”

Estudar o passado é uma forma de conseguir um futuro diferente

“Não porque o passado tenha alguma magia em torno de si, mas porque não podemos estudar o futuro. Ainda assim, necessitamos de algo para contrapor o presente, para nos lembrar de que as pressuposições básicas têm sido muito diferentes em diferentes períodos e que muito daquilo que parece absoluto para os que não são educados é meramente modismo temporário.”

Conhecer as perspectivas do passado nos ajuda a escapar dos modismos do presente

“O homem que já viveu em muitos lugares tem menos possibilidades de ser enganado pelos erros de seu local de origem. O erudito vive em contextos diferentes e, portanto, tem a percepção mais aguçada a respeito da enxurrada de tolices que jorram da imprensa e dos microfones de seu próprio tempo.”

Conclusão

Portanto, para Lewis, a vida humana deve ser vivida, independente da situação do mundo, com o mesmo propósito: o conhecimento da realidade divina e a satisfação da alma por meio da oferta agradável dela a Deus. Sempre devemos continuar nos esforçando para melhorar e para fazer o bem, estejamos em meio à sua situação de perigo, estejamos na paz. Há algo de intrinsecamente bom em aprender e em produzir conhecimento. 

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