Os Inklings, um grupo informal de escritores e acadêmicos que se reuniam na Universidade de Oxford entre as décadas de 1930 e 1940, deixaram uma marca indelével no cenário literário mundial. O grupo, composto principalmente por professores e alunos de Oxford, contava com figuras ilustres como J. R. R. Tolkien, C. S. Lewis, Owen Barfield, Hugo Dyson, Warren Lewis (irmão do C. S. Lewis), Charles Williams e Christopher Tolkien (filho de J. R. R. Tolkien). Eles se reuniam no Magdalen College, em Oxford, e nos pubs The Eagle and Child e The Lamb and Flag, para compartilhar seus trabalhos em andamento, discutir literatura, filosofia e mitologia, e desfrutar da companhia uns dos outros.
C.S. Lewis e J.R.R. Tolkien: Uma Amizade Forjada na Literatura
Dentro deste grupo, a amizade entre C. S. Lewis e J.R.R. Tolkien se destaca, como é possível descobrir com mais detalhes no livro “O dom da amizade“, de Colin Duriez. Ambos eram professores de literatura em Oxford, compartilhavam um profundo amor pela mitologia e fantasia, e foram figuras-chave na formação e desenvolvimento do grupo, sendo os nomes mais reconhecidos entre os membros. Mas não os únicos, como mencionamos antes.
Owen Barfield era estudioso da filosofia da linguagem e da filologia, pesquisando sobre a relação entre linguagem, pensamento e realidade, e argumentando que a linguagem evolui constantemente, moldando nossa percepção do mundo.
Já o Charles Williams era também escritor de ficção e de teologia. Focando principalmente na interação entre o mundo natural e o sobrenatural, como em seu livro “The Place of the Lion” (O lugar do leão) e em “A descida da pomba“, que tiveram bastante impacto sobre C. S. Lewis, que o recebeu calorosamente ao grupo, e que compartilhava com ele a ideia de sacramentalidade do mundo.
Mas o impacto mais relevante do grupo foi a famosa amizade entre C. S. Lewis e J. R. R. Tolkien.
Curiosidades sobre a amizade entre Lewis e Tolkien:
- De Ateu a Cristão: A influência de Tolkien, um católico devoto, teve um papel crucial na conversão de Lewis do ateísmo para o cristianismo. As longas discussões sobre mitologia e o significado da narrativa cristã foram fundamentais para a transformação de Lewis quando este ainda relutava para entender o papel de Jesus Cristo na história. A famosa conversa entre os dois foi convertida em um curta que pode ser assistido legendado no YouTube.
- Os Inklings: Ambos foram fundadores dos Inklings e participavam ativamente das reuniões, compartilhando seus trabalhos em andamento e se beneficiando das críticas e sugestões dos colegas.
- Críticas Literárias: Os dois eram críticos severos, porém construtivos, do trabalho um do outro. Dessa forma, Tolkien leu e comentou rascunhos de “As Crônicas de Nárnia”, enquanto Lewis foi um dos primeiros leitores de “O Senhor dos Anéis” e incentivou Tolkien a publicá-lo. Como Tolkien era alguém que demorava muito com detalhes (como ele mesmo admitiu sobre si mesmo em um conto que se encontra no livro “Árvore e Folha“), sem a influência positiva do Lewis, aprovando e indentivando o amigo, é provável que a obra mais famosa de ficção do século XX não tivesse sido publicada. E quando finalmente foi publicada, Lewis foi um dos primeiros a descrever a O Senhor dos Anéis como um clássico desde o seu nascimento. Que amizade, ein!
- Diferenças Criativas: Apesar da amizade profunda e da influência mútua, os dois autores também tinham diferenças criativas significativas. O que levou a desentendimentos entre os dois durante pontos de suas vidas. Ambos possuiam uma compreensão de que o mundo moderno precisava voltar a entender o valor do ‘mito’ e da importância dos ‘contos de fadas’ não só para crianças, mas também para a formação da mentalidade dos adultos. Este foi um dos motivos pelos quais Tolkien divergiu de Lewis quando este publicou As Crônicas de Nárnia com o público infantil em mente. E também não se agradou de ver alguns nomes de lugares muito parecidos com os nomes de lugares que Tolkien estava criando para o seu universo, que ao seu ver, era muito mais coeso e bem construído.
O Legado Compartilhado pelos Inklings
A amizade e o intercâmbio intelectual entre Lewis e Tolkien enriqueceram o trabalho de ambos e contribuíram para a criação de algumas das obras de fantasia mais importantes do século XX. É impossível imaginar a fantasia hoje sem os frutos da amizade entre os dois, e da vasta compreensão que ambos tinham tanto da mitologia como do cristianismo.
Dessa forma, os Inklings, com sua mistura de intelecto, imaginação e amizade, criaram um ambiente único que estimulou a criatividade e deixou um legado duradouro no mundo da literatura.
